sábado, 28 de março de 2015

Se o Senhor é o seu pastor? Então... - Salmos 23



O Salmo 23 é o lugar comum na poesia da alma. Todos o amam pois é cheio de candura e promessas. 
O Senhor é o meu pastor e nada me faltará! Quem não gostaria de não precisar de coisa alguma? 
A questão é que a maioria gosta deste Salmo porque ele é bonito, adentra a alma - como estar num pasto verdejante, e ser a ovelha faminta vinda do deserto. Sim, o Salmo 23 mexe com a nossa confiança mais infantil, e por essa razão, nos acalma como se estivéssemos no colo de Deus. É assim que me sinto e tudo fica bem.
E a promessa é o bem sentido, compatível quando se está em desespero. Então ele é lido como que para lembrar-nos que nosso Pastor, que foi quem fez as promessas, e nós não devemos esquecê-las. 

Tenho a impressão que, apesar da maioria das pessoas amar o Salmo 23, continuam achando que não acontece com elas. Só com os outros. Porque?
Porque a promessa do Salmo do Pastor apenas se cumpre se a pessoa conhecer o Pastor de Salmos. Todos leem, todos conhecem este Salmo, todos sentem-se encorajados, mas...não conhecem o Pastor. 

Mas, como se cumpre, se a vida parece dizer o contrário? O que mais se vê são pessoas se queixando do que lhes falta! 
Ouvir as pessoas, sejam cristãs ou não, é um exercício em ouvir 'carências' e 'necessidades'. 
Ora, como posso afirmar que o Salmo do Pastor se cumpre para quem conhece o Pastor do Salmo 23? Crer no Pastor de Salmos 23 garante a realização de todas as coisas? Não conhecer o Pastor de Salmos 23 é garantia também que lhe faltarão as coisas? Há aqui uma proposta de uma fé que nos dê certeza de prosperidade? Não.  

Está dito: "O Senhor é o meu Pastor e nada me faltará", ou seja, que continuaremos a ter nossas necessidades, de qualquer ordem, mas para aquele a quem esse Pastor Jesus de Nazaré é tudo, o que falta, é nada. A entrega ao Pastor Jesus realiza em nós satisfação no espírito, algo não palpável, não é na alma ou ausência da dor. O corpo é insaciável, a alma deseja, mas o espírito, este busca ao Senhor, portanto, deixe-o falar.
Mas hoje em dia, nós o calamos. A carne fala. A alma geme. Mas o espírito cala. E o nosso espírito não pode desejar. Não é próprio, é um paradoxo. 

No caso de encontrar o Pastor do Salmo 23, nada muda do lado de fora. Tudo o que nos falta do lado de fora, não é nada, perto do que se realiza do lado de dentro: Transformação. Assim, o cansaço, as necessidades, a direção, as contradições, o vale da sombra e da morte, dão lugar aos pastos verdejantes... ás águas tranquilas...aos perfumes ungidos... Mesmo que o ambiente esteja carregado de inimigos, sentarão à mesa conosco, para ver quem somos: filhos amados. E as sombras da morte são transformadas em veredas de vida, pela companhia agradável de nosso Pastor. 

O chamado do Salmo 23 é para a renúncia da tirania e entrega á quietude. Confiança.
Paz é ausência de desejos.
Quanto mais desejos, menos paz. Afinal, quem morrer não ganhará a vida, conforme o convite do bom Pastor?
Quanto mais paz, mais alegria no espírito, mais vida.
Feliz é quem pode dizer: "Não tenho nenhum bem, somente a Ti, Senhor".
Feliz aquele que tem fome, e come.
Feliz aquele que tem sede, e bebe.
Feliz aquele que tem sono, e dorme.
Feliz aquele que quer acordar, e levanta.
Feliz os despojados pois estes, possuem tudo, no nada...


Graça e Paz!