sábado, 16 de novembro de 2019

Ser como criança, não infantil (pte.1) - Mt 18.1-5


O ser (o estado do homem) criança é bíblico. Ser como criança é a principal condição para entrarmos no reino de Deus. Desde o jardim do Éden a Trindade prometeu uma criança (Gn 3.15), e em toda peregrinação espiritual, conduziu seu povo até que essa criança nascesse de mulher através do Espírito Santo, para salvar a humanidade. Os judeus apresentam essa criança à humanidade (sim, Jesus era judeu e cumpriu todas as tradições judaicas), para que tenhamos Salvação. Essa criança cresceu, em Graça e sabedoria, e diante do homens, convidou: "Quem quiser viver sob o reino de Deus que se torne uma criança". 

Discorro a relação de uma criança com o Pai, na visão da criança, que para ela (eu ou você) o Pai sabe tudo e pode tudo. Esta criança confia, sem medo da vida, em ser feliz.
Imagine um pai que colocando a criança no alto, pede: "Pode se jogar que eu te pego". E a criança se joga... porque confia.
Uma criança feliz, obedece, depende e descansa nos braços do Pai, porque ali ela quer estar, ama o que vê e se sente amada, segura e salva. Uma criança assim só pode ser feliz. 

E há pessoas com problemas de relacionamento com o Pai (relacionais e existenciais) porque não viveram a fase do super-homem e ficou um vazio, uma ausência, uma busca dentre outros relacionamentos.
(leia a continuação)

Ser como criança, não infantil (pte.2) - Mt 18.1-5


O ser criança até aqui é ser como Jesus, onde Pai e Filho eram um só.
Uma criança não é dominada por ambições, como no v.1 onde os discípulos se preocuparam em "Quem era o maior", uma vez que Jesus falava do "reino" - se tem reino, deve ter cargos, hierarquias, poder, suce$$o, etc - o que revela qual a real motivação. O contraste é que os mesmos discípulos aprenderam com Jesus uma vida simples, amar a Deus e ao próximo.
Quem tem ambição não é feliz com o que tem, sempre quer mais, sempre insatisfeita. Satanás ambicionou ser como Deus, Adão e Eva também. A Igreja está do jeito que está hoje porque muitos a veem como os discípulos viam: possibilidade de posição, poder, suce$$o, hierarquia. Enquanto no reino de Deus a posição mais importante é servir. 

Uma criança não é dominada por preconceitos. Antes de nos convertermos, recebemos informações sobre religião, práticas e ideias sobre Deus que muitas vezes impede experiências profundas com o Pai. A criança acredita no que dizemos. Não há preconceito contra nada nem ninguém, não impõe sua opinião. Jesus sempre andou e recebeu os que sofriam preconceito: pecadores, prostitutas, leprosos, cobradores de impostos, iletrados. 

A criança é humilde. Em Mt 18.4, Jesus ressalta: "Aquele que se humilhar como essa criança, será o maior no reino dos céus". O exemplo de humildade é a criança, o que agrada a Deus ("Aos humildes concede Graça" - I Pe 5.5) - tanto para com o próximo (horizontal) onde cede para ficar em paz e gerar o bem ao próximo, quanto em relação à Deus (vertical), onde um espírito humilde reconhece que precisa de Deus, não pode viver sem Deus.
O centurião (Lc 7.6,7) foi humilde como uma criança, a ponto de surpreender Jesus. 

A criança perdoa, fácil. Pode até brigar, chorar, ficar "de mau", mas daqui a pouco, as crianças estão brincando novamente, por que se perdoaram. Optaram pelo amor e perdão, não a vingança. Preferem ser felizes do que ter razão (orgulho). Já os adultos que brigam por causa da briga das crianças, não se falam nunca mais.
(leia a continuação)

Ser como criança, não infantil (pte.3) - Mt 18.1-5

Ao falar que devemos ser como criança, Jesus alerta para não ser infantil (I Cor 14.20). As características de criança devem ser mantidas: Crianças não sabem o que é gratidão (não tem medida do que é feito em favor delas). O que é o sacrifício feito pelos pais (a ponto de dizermos: "Diz obrigado pra mamãe", pois eles não sabem), assim como não sabem o tempo ("Quanto tempo falta para o Natal?"), a distância (na estrada, perguntam a cada 5 minutos: "Já chegou?"). Por valores (não importa a conta bancária ou se interessam pela troca de favores) ou pela importância (um porteiro, um traficante ou empresário tem o mesmo valor para uma criança). Não passa pela cabeça de uma criança alguém ser melhor que o outro. Enfim, Jesus coloca um padrão para nossa espiritualidade: a criança. 

O que me marca neste texto é que uma criança jamais perguntaria "Quem é o mais importante nos céus?", como os discípulos fizeram.
Jesus, mais que ser aquela criança prometida no Éden, deu exemplo: se fez criança para que todos o sejam também, aos nascidos de mulher, renasçam através do Espírito Santo, cresçam em graça e sabedoria. E afirmou: "Eu dei o exemplo, agora sejam assim".
Jesus mostrou que o Pai é nosso, mostrou quem era e como era o Pai: tudo para nós e tudo em nós, se formos como criança.
O Pai enviou Seu Filho, para nos reconduzir ao Pai, nascermos de novo, e pelo Espírito Santo, sermos filhos herdeiros, co-irmãos com Cristo - legítimas crianças! 

Quando eu crescer quero ser como criança...



Graça e paz, naquEle que nos ensinou como viver e como morrer!

terça-feira, 5 de novembro de 2019

Pobreza e injustiça (pte.1) - Mc 14.7



Imagine que está tomando um café bem gostoso numa padaria chic, pensamento longe nos afazeres, e uma menina com olhar triste, mão na boca e pés descalços entra e pede um pão.
Muitos podem pensar: "Como deixam uma menina entrar assim?". Sem saber como agir, muitos também põe uma moeda na mão da menina e desejando muito que ela vá embora, solta um sorrisinho, e pronto. Sim, a pobreza nos incomoda. O pobre também.

Já ouvi gente dizer que dá esmola, ou um trocado, porque pode ser um anjo do Senhor, ou que a sua parte ele faz, mas se essa menina (ou os pais dela) compram drogas, bebida alcoólica ou se prostituem, não é problema de quem deu esmola. Por mais que respeite, não concordarei jamais, pois quem dá esmola, muitas vezes quer dizer "este problema não é meu". Modo fácil de virar as costas para um problema que, ou é derivado da nossa ação, ou da ausência dela.

Diante da pobreza avassaladora que nos cerca, justificamos o fato de Jesus dizer que, como "os pobres sempre terão convosco" (Mc 14.7), então, não temos culpa, será assim e pronto. E caminhamos indiferentes, superiores, achando que o problema não é nosso.
O detalhe maior deste verso é que há uma saída: se quisermos, podemos fazer o bem, ou seja, temos a oportunidade de não sermos mais indiferentes aos que nada tem, e amarmos este próximo. Foi o que disse Jesus. Sempre teremos os pobres conosco devido à dureza do nosso coração - em não dividir o que sobeja, em cobrar alto a quem nada tem. Agora, e se mudarmos nosso coração?
Não use a Palavra de Deus para justificar a pobreza nem a (nossa) injustiça que a gerou. Jesus constatou que "a dureza do vosso coração" (Mt 19.8) dura até hoje, gerando o divórcio e a pobreza. Acredito que Jesus gostaria de ouvir: "Mestre, já não há mais menino(a) descalço(a) entre nós".

A Bíblia é explícita no que concerne a relação entre o pecado da opressão e exploração, e a existência do pobre e da pobreza. A injustiça deve ser denunciada, uma vez que Deus é justiça, e o seu povo (cristão) deve ser santo. 

Continuo firme, até que me provem o contrário, de que o texto de At 2.42-47 e At 4.32-35 é dos mais profundos no que diz respeito a suprir a necessidade básica do próximo, onde naquela padaria chic, as meninas pedintes, provavelmente, estariam usando sandálias. Não é a toa que o povo perseverava na doutrina ensinada pelos apóstolos, no templo, na comunhão, no partir com alegria o pão, nas orações, tinham tudo em comum, e de coração simples repartiam os bens, e o povo ao ver sinais e maravilhas, os recebia com graça, onde havia temor e louvavam a Deus, e a Igreja só crescia, pois Deus, acrescentava os que deveriam ser salvos - pois em sua simplicidade, havia dependência de Deus, em tudo.

(leia a continuação)

Pobreza e injustiça (pte.2) - Mc 4.7


A fome e miséria identificados são dos que estão abaixo da linha da pobreza (segundo o Banco Mundial), ao faltar as necessidades básicas (água, comida, roupa, abrigo, saneamento, educação, saúde), onde 1,1 bilhão de pessoas vivem e onde morre 1 criança a cada 3 segundos. O contraste são crianças descalças pedindo pão em padaria chic. Diferenças sociais, físicas e materiais, raça, sexo, cultura, capacidades e oportunidades, que demonstram o abismo entre a miséria e opulência, entre a mesa farta e outras sem comer há dias.
Essas desigualdades cresceram ao longo do séc.XVIII, com o liberalismo, quando a industrialização catapultou as oportunidades fomentadas pelo capitalismo, alterando a relação trabalho-capital. Os feudos avistavam seu fim, assim o homem trabalhador era virtude, pois fazia o bem para a sociedade. Assim, a riqueza era demostrada como triunfo, vitória, enquanto o inverso disso, a pobreza era o fracasso pessoal. Ricos ganhavam dinheiro, enquanto pobres cuidavam dos bens do rico. Se Deus era testemunha do esforço e suor do trabalhador pobre, e a pobreza e fracasso se davam pela ausência de Graça, então, o pobre era assim porque Deus quis.
O pobre ganhava para a sobrevivência. Ricos, são ricos a custa do pobre, e assim ficavam mais ricos, mas precisavam do pobre trabalhando para eles para ficarem mais ricos. E então, "os pobres sempre os terão convosco" está plenamente justificado.

A desigualdade é refletida nas relações sociais. Karl Marx teorizou sobre a liberdade (compra/venda) e igualdade (social), pois só expressavam o interesse de uma minoria, o que foi pouco equilibrado com a justiça trabalhista. O capitalismo precisava da igualdade jurídica (patrão/empregado).

Se a sociedade são atividades dos homens, ações humanas que tornam esta sociedade possível, elas organizam e mostram as relações humanas - e as desigualdades sociais são portanto, o domínio da propriedade (fato jurídico e político). Essa dominação dá origem às desigualdades de um sistema social, passam da desigualdade econômica para a desigualdade cultural, e desigualdade política. Isto, nos ajuda a ter melhor compreensão de nós mesmos e do próximo.

(leia a continuação)

Pobreza e injustiça (pte.3) - Mc 14.7



A culpa é de Deus? Se todas as riquezas do mundo fosse (re)distribuídas com equidade todos seriam ricos. O problema no Nordeste, por exemplo, não é a seca. É a cerca. Se as distribuições tanto de renda, como de bens e serviços, fossem justas, as lixeiras teriam a função apenas de guardar lixo. E a indústria da reciclagem não prosperaria à custa do pobre. 
A riqueza gera pobreza, quando devia subsidiar e dividir. A minha riqueza é a sua pobreza. Existem pobres porque existem ricos - onde a riqueza deveria atingir a todos, ser bênção, ela se torna o berço de todas as injustiças, a raiz de todos os males.
Sem rodeios, Tiago afirma em sua carta que os ricos oprimem os pobres: não há riqueza sem opressão. A desigualdade é mantida na base da violência contra o próximo. É simples pensar que o mandamento de amar seu próximo resulta na equidade.
A Igreja primitiva descobriu essa verdade e eliminou, ao menos, as maiores distorções sociais.

A vida dos ricos também é infeliz, é uma tragédia dentro do luxo. O rico tem tanto dinheiro, tanto dinheiro, que só tem dinheiro. O dia que perder esse dinheiro não lhe restará nada. O dinheiro pode comprar uma casa, mas não um lar. Pode comprar uma mulher, mas não uma esposa. Pode tratar sua doença no melhor hospital, mas não trará a vida perdida de volta. A riqueza material não é condenável, mas tem armadilhas para o espírito, e é difícil chegar ao céu, como Jesus diz (Mc 10.25).

Só a infelicidade é equivalente. Num mundo maligno, onde seu príncipe reina (vemos suas ações todos os dias), não será possível enriquecer sem ganância, abdicando da justiça. Riqueza e felicidade só estarão juntas no millenium, prova que poderíamos tê-los agora, nos dias de hoje.
Quando vejo famílias nos lixões, vivendo de recicláveis, vejo que falhamos. Deus fez sua parte. Agora, cabe fazer a nossa.


Graça e paz do Senhor Jesus!