terça-feira, 5 de novembro de 2019

Pobreza e injustiça (pte.1) - Mc 14.7



Imagine que está tomando um café bem gostoso numa padaria chic, pensamento longe nos afazeres, e uma menina com olhar triste, mão na boca e pés descalços entra e pede um pão.
Muitos podem pensar: "Como deixam uma menina entrar assim?". Sem saber como agir, muitos também põe uma moeda na mão da menina e desejando muito que ela vá embora, solta um sorrisinho, e pronto. Sim, a pobreza nos incomoda. O pobre também.

Já ouvi gente dizer que dá esmola, ou um trocado, porque pode ser um anjo do Senhor, ou que a sua parte ele faz, mas se essa menina (ou os pais dela) compram drogas, bebida alcoólica ou se prostituem, não é problema de quem deu esmola. Por mais que respeite, não concordarei jamais, pois quem dá esmola, muitas vezes quer dizer "este problema não é meu". Modo fácil de virar as costas para um problema que, ou é derivado da nossa ação, ou da ausência dela.

Diante da pobreza avassaladora que nos cerca, justificamos o fato de Jesus dizer que, como "os pobres sempre terão convosco" (Mc 14.7), então, não temos culpa, será assim e pronto. E caminhamos indiferentes, superiores, achando que o problema não é nosso.
O detalhe maior deste verso é que há uma saída: se quisermos, podemos fazer o bem, ou seja, temos a oportunidade de não sermos mais indiferentes aos que nada tem, e amarmos este próximo. Foi o que disse Jesus. Sempre teremos os pobres conosco devido à dureza do nosso coração - em não dividir o que sobeja, em cobrar alto a quem nada tem. Agora, e se mudarmos nosso coração?
Não use a Palavra de Deus para justificar a pobreza nem a (nossa) injustiça que a gerou. Jesus constatou que "a dureza do vosso coração" (Mt 19.8) dura até hoje, gerando o divórcio e a pobreza. Acredito que Jesus gostaria de ouvir: "Mestre, já não há mais menino(a) descalço(a) entre nós".

A Bíblia é explícita no que concerne a relação entre o pecado da opressão e exploração, e a existência do pobre e da pobreza. A injustiça deve ser denunciada, uma vez que Deus é justiça, e o seu povo (cristão) deve ser santo. 

Continuo firme, até que me provem o contrário, de que o texto de At 2.42-47 e At 4.32-35 é dos mais profundos no que diz respeito a suprir a necessidade básica do próximo, onde naquela padaria chic, as meninas pedintes, provavelmente, estariam usando sandálias. Não é a toa que o povo perseverava na doutrina ensinada pelos apóstolos, no templo, na comunhão, no partir com alegria o pão, nas orações, tinham tudo em comum, e de coração simples repartiam os bens, e o povo ao ver sinais e maravilhas, os recebia com graça, onde havia temor e louvavam a Deus, e a Igreja só crescia, pois Deus, acrescentava os que deveriam ser salvos - pois em sua simplicidade, havia dependência de Deus, em tudo.

(leia a continuação)

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