Se a justiça não é vista nas ruas, o Evangelho não chegou a estas pessoas como devia. Se as pessoas as quais falamos/pregamos o Evangelho não mudam, nem são semelhantes a Jesus, então estamos pregando algo diferente do que Jesus pregou. Veríamos o mesmo impacto quando Jesus falou. É possível que o Evangelho que pregamos não seja o Evangelho de Jesus. Problema pode estar no evangelista.
Quando a Palavra de Deus começa em mim e não chega como deveria em você, possivelmente saiu de mim carregada com minhas intenções, dogmas, impressões, ideologias, eclesiologia e filosofia. O problema está na pessoa (evangelista) não no Evangelho. Servimos a uma geração que ouve com os olhos e não mais com os ouvidos, e acreditam mais no que veem jamais no que ouvem.
A Palavra de Deus se perde quando quem ministrou é pego com dólar na cueca. Somos aquilo que vemos jamais o que ouvimos, só que João nos diz que a fé vem pelo ouvir a Palavra de Deus. O que se vê tem muito mais poder do que aquilo que se ouve.
Não há dúvida no que fazer, mas no que ser, pois é ensinado às ovelhas o que fazer, mas não como ser.
Em Gn 11.4 o povo tem a grande ideia de construir uma cidade e ficar juntinhos com Deus, para sempre. A proposta era comunhão, caminhar juntos. Lembrando que Deus rejeita, confunde as línguas e acaba com os planos humanos, pois não havia comunicação edificante.
Porque então Babel foi rejeitada por Deus?
Porque a comunhão foi fruto de um afastamento histórico existencial por parte do povo, já que em Gn 9.1, Deus abençoou Noé e mandou que enchesse a terra, essa era a ordenação que Deus queria: escrevam a história, caminhem e espalhem vida na terra. Essa era a ordem original, a missão do povo de Deus, mas enquanto na Babilônia disseram que iriam fincar os pés e ficar.
Babel, portanto, era fruto da desobediência a Deus, e este tipo de ajuntamento, foi rejeitado.
A marca mais contundente do evangelismo é o "ir, encher a terra com a justiça de Deus". Não o permanecer, ficar para a própria preservação.
(Leia a continuação)
O Evangelho de hoje está mais para "vinde" que para o "ide". Nosso trabalho é voltado para o ir, multiplicar, encher a terra, ou auto-preservação? Para se pensar.
A comunhão que Deus quer não é ajuntamento, é comunhão como missão, é visão, não ajuntamento. E se a comunhão que fazemos não promove a consciência do "indo" (fato permanente e constante), terminará no ajuntamento, também não é fecundo, e arrisco dizer que toda vez que Deus nos visitar será para acabar com a nossa reunião. Para quem vive a teologia da manutenção, autopreservação, não cumpre a missão, busca a presença de Deus para a própria desgraça.
A comunhão deu errada porque era fruto errado, não do ajuntamento, mas da missão. Missão produz vidas. E outra, a cosmovisão do povo, estreitou-se, porque resolveram parar. Antes, caminhavam até chegar às planícies da Babilônia - lugar de melhor água e terra mais fértil jamais vista. Buscavam, portanto, conforto, prosperidade, enriquecimento, e acharam tudo para uma vida equilibrada. O conforto gerou neles uma deformação da visão de Deus para o homem, distorceu a ordem de encher a terra, pregar o Evangelho a toda criatura, até os confins do mundo.
E nos dias de hoje, a teologia da prosperidade manda olhar para o próprio umbigo.
Cadê o"ide"?
Tem ajuntamento?
Pra que sair?
Estacionamento, ar condicionado, cadeiras confortáveis, telão, mesa de som. Nós estamos bem, mas e o resto? Sim, porque "resto" é como são tratados àqueles que não tem acesso á água, alimento, saneamento básico. Isso está longe de ser cristianismo. Não pode ser mais uma comunidade de fé - pois fé é a certeza de que o futuro já está pronto, ainda não chegamos, mas celebramos como se já fosse passado. Quem vive pela fé não conhece estagnação na vida.
Nossa postura neste mundo tem sido de influenciá-lo ou da autopreservação?
(leia a continuação)
Os homens queriam ficar ali e ser somente para eles. Nos colocamos no centro do universo, e se está bom, não precisa sair. E se o homem está centro, não posso crer mais no Evangelho, porque o Evangelho diz que Jesus é o centro. Protágoras diz que todas as coisas convergem nele, ao contrário do Evangelho, que tudo e todas as coisas convergem em Cristo - dEle, por Ele e para Ele são todas as coisas.
Este povo só pensava em si, suprir suas vontades, uma comunidade (igreja?) inerte onde os pensadores evangélicos ficam por ali mesmo, imaginando, falando, cantando, louvando, mas para dentro, nunca praticando o "ide", nem alcançando ninguém.
É melhor não ser do que ser para si mesmo.
Assim como Caim, temos que ter a resposta para Deus: "Onde está o teu irmão?" (Gn 4.9). Se é para ser só para nós, então não serão - Deus vem e acaba com os projetos dos homens que queriam viver em comunhão, pertinho dEle.
Acho que deveríamos ao menos refletir nisso.
Quantos "cristos" dentro de ministérios estão morrendo ou adoecidos? Será que este ministério onde você está é mesmo de Jesus? Será que esta igreja onde você tem comunhão não é a 'sua' igreja? Ou age como se fosse sua? Será que não queremos preservar nosso próprio nome ou cargo nesse ministério? Se uma Igreja não vive para servir mas vive para preservar o próprio nome, Deus virá e destruirá, assim como Babel. O texto me garante esse raciocínio.
(continua)
Se há uma crise existencial, há um choque de vontades - a vontade de Deus é servir, a vontade dos homens é serem servidos, viver olhando para o próprio umbigo, o que prevalecerá é a vontade de Deus.
E a igreja que não se submete à vontade de Deus, não é mais igreja de Deus, e se é assim, não precisa de Deus. E Deus, ao se manifestar contra esta igreja, será como ladrão (Ap 3.3b): "Tem fama estar viva mas está morta, diz que é minha mas não faz minha vontade, sua motivação é outra, e se não se arrepender, virei contra ti como ladrão" - Neste caso, Deus não voltará para nós, mas contra nós. No modo e na missão, sem que percebamos: roubar, matar e destruir. Lutar contra o diabo, ainda há esperança, apesar do nosso pecado, porque há poder no nome de Jesus e Sua Graça nos cobre de todo pecado. Agora, lutar contra o próprio Deus? Que esperança teremos?
Quando o assunto é o seu povo, ser para si mesmo, é melhor para Deus a divisão do que a apostasia (mais que abandonar a fé, é abandonar a missão), já que uma igreja morre não quando para de se unir, mas quando para de servir. É uma ofensa para Deus não amar o próximo, porque este, também é Seu filho - mesmo que num espojadouro de lama, mas é ainda filho.
Podemos ser melhores, somos chamados para servir, então, conheçamos as necessidades do homem contemporâneo: deixar de ser individualista e egocêntrico. Yung, diz que o processo de "individuação" evolui do estado infantil para um estado de diferenciação. Cresce, identifica e amplia sua consciência. Ministremos como fez Jesus, tanto no macro (sermão da montanha), como no micro (ladrão dos impostos, crianças). Este ser (individuação) se identifica com o gadareno, Jesus vê uma pessoa que diz: "Somos legião" (muitos em um, impedindo o indivíduo de ser ele mesmo). Jesus então restaura a humanidade neste homem, devolve a sua individuação - em pé, quer segui-lo, e Jesus diz para que este volte para casa e seja o novo homem transformado, pois sua família precisa conviver e saber que ele os ama.
Passamos por uma crise de fé, geral e irrestrita, em todas as instâncias, não acreditamos em mais ninguém, aumento dos desigrejados, perdemos a fé nos homens de Deus, e em Deus, por causa do testemunho, ou a falta dele, sem individuação não tem capacidade de ver a massa se corrompendo, mas pela Graça de Jesus, vê em nós seres que remam contra a maré e conseguimos abraçar uma pessoa como o Senhor para que continue a ser quem é, amadurecer. Não é só mudar a religião do sujeito, trazer para nossa igreja, é muito mais que isso. Nossa missão é mudar a sua essência, isso é Evangelho.
Graça e Paz!