As aflições da alma colocam contra a parede a nossa fé, nossa caminhada com Deus.
Que necessidade é essa? Porque precisamos nos apegar ao trono da Graça?
O livro de Hebreus foi escrito aos judeus convertidos, comparando a jornada no deserto, do Egito à terra prometida, onde ficam no deserto mais de 40 anos e todos morrem, conosco, nos dias atuais. É possível que saiamos do Egito e não cheguemos à terra prometida, ao melhor de Deus para esta vida, e que ao atravessarmos o deserto, nesta travessia, não desfrutemos do descanso, da benção e da bondade de Deus para nós? Sim.
Para que isso não aconteça, precisamos estar atentos ao o que ouvimos ( a fé vem pelo ouvir) para que não desviemos no caminho (Hb 2.1). Esta é uma advertência à tentação (Hb 2.18) - o motivo pelo qual desviaram (e desviamos ainda hoje) de Deus. A tentação é o momento que nos aparenta ser melhor fazer o que é contrário à vontade de Deus. Porque fazer a vontade de Deus contraria a expectativa e o desejo pessoal, exige um sacrifício nosso. Ao estarmos neste estado de "tentação", colocamos sub judice, a vontade de Deus, pois ela não parece ser a melhor opção, segundo o nosso olhar.
Pois assim como aconteceu ao povo de Israel no deserto, neste vale de lágrimas, costumamos nos afastar em nosso coração dos caminhos de Deus, nos tornando incrédulos - eis que vem a ira de Deus contra o seu povo - exatamente como a geração que saiu do Egito (Hb 3.10). E se nosso coração se afasta dos caminhos de Deus, perverso e incrédulo será. Exortemo-nos, uns aos outros, e que ninguém se perca no engano do pecado: quem se rebelou, ouviu, desobedeceu, pecou e morreu no deserto (Hb 3.16).
As Boas Novas foi pregada á Israel e chegou a nós. Sei que não entraram no descanso do Senhor, mas e quanto a nós? Que não caiamos na esparrela da desobediência para perdermos a Salvação (Hb 4.11). Porque há uma diferença brutal: Temos hoje a Cristo, o Filho do Deus vivo, e pela fé nEle, somos salvos, nada temos que sacrificar, pois Cristo foi o único e suficiente sacrifício eterno, passando por todo tipo de tentação, sem pecar. Então, começo a compreender: Tenho que me achegar ao único que é digno de se assentar no trono, responsável pelo único e santo sacrifício por nós, pois só assim receberemos Graça e misericórdia, para nos ajudar neste momento de necessidade.
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O momento de necessidade é quando estamos cansados. Não perdi a fé, mas as aflições da minha alma me cansam. O risco de perder a fé, a Salvação, é por sermos incrédulos, desobedientes, rebeldes, virarmos as costas para Deus, porque alimentamos expectativas em Deus o que não deveríamos. E ao passar por este tempo de dificuldade, sem chão, sem esperança, tribulação (simbolizada pelo deserto), começamos a ficar amargurados com Deus. E oramos, sem blasfemar, mas ressentidos:
- "Porque estamos passando por isso, Deus?";
- "O que o Senhor quer de nós?".
O tempo passa, as aflições da alma não passam, não há remédio, e oramos temerosos, mas já com audácia:
- "Deus não estou entendendo qual é a sua?";
- "Eu estou aqui, Senhor, não me recuso, me ensina!".
Aqui, já há murmuração:
- "O que o Senhor quer de mim?";
- "Porque deia isso acontecer?".
Nesse momento, achamos que deus não está fazendo aquilo que você quer que Deus faça, e brota, como uma plantinha no vão da parede, uma amargura no coração. E assim, vamos esfriando. Seu coração que era quente (sapatinho de fogo), já não é mais. Orava tanto e agora, não ora mais. Buscou tanto, e hoje já não lê tanto a Palavra. Era comprometido(a) em servir, mas na hora que precisa não vem o que o que espera, de alguém engajado vira um observador. E como cínico e cético:
"Deus te ama!" - Você dá um sorrisinho irônico;
"Deus é bom!" - Só se for para os outros;
"Deus cuida de você" - Acredita mesmo nisso? (irônico).
Assim, o Evangelho está dentro de você mas como conhecimento cultural e social, não como prática de fé - já não chora mais, não canta louvores, não está feliz, nem sorri, só observa. Daqui há pouco, não quer mais saber dos irmãos, da Igreja, da fé, do pastor, da Palavra de Deus. O próximo passo é odiar a Deus.
E aqui, abre-se mão dos valores morais. E na Babilônia, é fácil pensar que Deus não está nem aí para me ajudar, provavelmente, não está nem aí para me julgar. Aliás, Deus? Quem é Deus?
"Se Deus não existe, tudo é permitido" (Dostoievski). Se alguém perdeu a conexão do coração com Deus não tem por quê se sacrificar para ser agradável a Deus.
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A carta aos Hebreus fala deste processo, deste cuidado na caminhada. E o melhor é que o texto nos oferece uma saída, a única saída: Devemos buscar nosso sumo-sacerdote, intercessor que nos coloca diante do Pai. Não hesite em clamar e buscar por Jesus porque só Ele vai entender você - Jesus passou por tudo o que você passa, e não pecou. Em tudo foi tentado, mas disse: "Calma, eu já passei por isso".
Solidão (Mc 14.32-42), assédio do mal (Sl 55.12,13), abandono (Mt 27.46), lar (Lc 9.58), família (Jo 9.26), chorou (Jo 11.35), fome (Mt 4.2), sede (Jo 4.7b), traição (Lc 22.48).
O problema de sentir essas aflições na alma e não receber refrigério, bálsamo, ou não ver as coisas acontecendo do jeito que queremos, é projetar essa dor, o mau sofrido, em Deus. E perder a fé é a decorrência óbvia. Nos abrimos a qualquer pessoa, vacilamos diante de quem nos faz mal, até as que sentam conosco à mesa, que nos traem.
É natural que algo que planejou, é legítimo querer que aconteça, pois anda na linha, se sacrifica em vários momentos, mas... a benção não vem! A esperança quando adiada traz tristeza no coração (Pv 13.12). E começamos a lamentar, nos tornamos cínicos e céticos, pois se Deus não está nem aí para mim, a incredulidade e frustração encontram campo vasto para tomar conta da nossa alma.
Quando a vontade de chutar o balde nos encontra, Deus vem e diz: "Não foi para isso que eu te criei, filho. Isso nada tem a ver com você, não se comporte como se fosse um deles - não faça o que eles fazem - este é o sacrifício, o ônus que tem que suportar para ser quem eu quero (imagem e semelhança), a menos que você não queira". Veja que não tem plano B.
Nessa luta para andar segundo a vontade de Deus, convivendo com as pressões, com as feridas, com as contrariedades, doenças e infortúnios, e algumas ao mesmo tempo, temos um esgotamento. Não é que que não creia mais, é que eu não aguento!!
E mais uma vez o livro de Hebreus vem e nos diz: "Calma. Eu já passei por isso". Imagine no Getsêmani.
Quando perceber esfriar, tratar Deus com murmuração, perceber que as coisas não tem mais sentido, nem mesmo buscar as coisas de Deus, desobedecer a voz do Espírito Santo e se tornar cético, cínico, apegue-se à sua fé e busque o trono da Graça para que Deus trate você com misericórdia e derrame Graça sobre sua vida (Hb 4.16).
É quando falamos o que não deveríamos, Deus fecha o Seu semblante, e se puder imaginar, veja Jesus ao seu lado, põe a mão no seu ombro, olha para o Pai, e diz: "Pai, tem misericórdia... Eu sei bem o que ele está passando, eu passei por isso". Jesus sujou os pés com a mesma sujeira, passou e sofreu o que passamos e sofremos. Permita que Jesus segure a sua mão, isso vai passar. Ele já atravessou o vale de sombra e morte, e pede: "Não desanime, eu já passei por isso. A gente vai chegar do outro lado. O deserto é só passagem, não é o final. Final, é o céu".
Graça e paz,
NEle, onde você encontrará misericórdia e graça!
Judeus eram colônia romana, pagavam impostos exorbitantes. Escribas eram doutores da lei, estudiosos. Fariseus eram os xiitas, aplicando a lei de Israel. Publicanos recolhiam impostos - traíam Israel e faziam o serviço sujo para Roma, e claro, levavam o seu debaixo dos panos - por isso eram odiados por todos.
Jesus sentou-se à mesa com publicanos e pecadores. As pessoas de reputação duvidosa como estes, mais prostituas e leprosos, sentiam-se à vontade na mesa com Jesus.
Diferentemente dos citados acima, Jesus não usava Sua autoridade para se distinguir, mas era a lâmpada em relação aos pirilampos - uma atração irresistível. A autoridade jamais vista em Israel, não como os escribas (apesar do conhecimento destes) nem como os fariseus. Chegaram ao ponto de achar que Jesus trazia uma nova doutrina - ou seja, algo do qual eles nunca ouviram através dos fariseus e escribas, que se julgavam acima do povo. Jesus não.
A autoridade vinha do se misturar com as pessoas, do compartilhar os mistérios do reino de Deus a quem quisesse ouvir, o que geralmente acontecia com os pecadores, primeiro por não conhecerem a Torah, segundo por julgarem-se pecadores mesmo, e distantes de Deus, não eram menosprezados nem intimidados por Jesus - algo que fariseus, escribas e publicanos faziam e fugiam justamente por serem inescusáveis. Os mistérios do reino de Deus são revelados aos simples e pecadores.
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Demônios temem a Cristo, os homens, não. Os espíritos malignos suplicam para não serem destruídos (Mc 1.23-26) e Jesus não ameaça homens com seu poder, Ele nos ama. Jesus não é feiticeiro que faz um "trabalho" e se impõe pelo medo, para ser adulado e ser servido, como uma troca: você me dá "isso", e eu trago a pessoa amada, ou te darei um carro 0km, ou curo essa doença! Jesus coloca homens em pé, ensina a andar com as próprias pernas para que tenham autonomia responsável. Demônios são expulsos, homens são libertos.
A pureza de Jesus não segrega, mas abraça os excluídos e impuros. Leproso em Israel era impuro, e contaminaria todos que tivessem contato com ele. Jesus, ao tocar o leproso, cura-o, purifica-o. Ao invés de se contaminar pela lepra, transfere pureza ao leproso (Mc 1.40-42). É aquela história:
- A mosca quando cai na água, ela contamina a água ou a água purifica a mosca?
A virtude de Jesus oferecia perdão. O paralítico é perdoado em seus pecados (Mc 2.5-7). O olhar de Jesus não condena, nem sua voz acusa. A mensagem de Jesus é de Salvação, não moralista, em juízo - anuncia o ano da Graça do Senhor.
Jesus perdoa pecados. Em pleno sábado, quando os religiosos mostram o quão não entenderam a Deus (Mc 3.1-6), Jesus promove a vida, já que guardar o sábado é se distanciar do sofrimento do próximo. O sábado é para o homem, não o homem para o sábado (Mc 2.17). A religião lava as mãos enquanto nosso irmão sofre e chora.
Publicanos e pecadores sentem-se à vontade na companhia de Jesus, pois à sua mesa estão dispostos os mistérios do reino de Deus, libertação, inclusão, perdão, compaixão, solidariedade e generosidade. Jesus sempre chamou todos ao arrependimento, pecadores e seus pecados, corruptos e imorais. Nunca legitimou e permitiu uma vida de pecado, mas nunca se eximiu em perdoar alguém.
Graça e paz!!